A Tarde (Salvador, Bahia)
Publicado em 29/05/2014


Uma obra-prima de Cristovão Tezza

Ruy Espinheira Filho

É raro, muito raro, o leitor sair de um livro sentindo a emoção, o engrandecimento e a iluminação de haver entrado em contato com uma obra-prima. Pois bem: é o que está acontecendo comigo, agora, depois de ler O professor, novo romance de Cristovão Tezza, recém-lançado pela Record. Conheço bem a obra de Tezza, há muito entre as mais importantes do país, portanto não me surpreendo que tenha produzido outra obra-prima - mas, como acabei de lê-la, é a que está mais viva, pulsante e fulgurante em mim.

Traz-nos o romance a história de vida de Heliseu da Motta e Silva, professor de Filologia Românica, rememorada pelo próprio personagem, que está tentado se preparar para dizer palavras de agradecimento pela homenagem que irá receber dentro de algumas horas na sua universidade. Assim, buscando as necessárias palavras, o que vem a Heliseu é sua própria vida. Que, como todas as vidas, é composta de alegrias, sucessos, tristezas, frustrações, amores, ódios, remorsos e – em seu caso – talvez um crime de morte.

Ao contrário da maioria dos romances de hoje, superficiais e com movimentação cinematográfica, o que deixa de lado a densidade literária, a literatura de Cristovão Tezza é arte que se aprofunda em si mesma, o que significa que vai à alma dos seus personagens, não se limitando a descrever-lhes exteriormente as ações. Assim, penetramos na vida do professor Heliseu e passamos a partilhar essa vida – uma vida intensamente verdadeira, como só encontramos na grande ficção.

Gostemos ou não, Heliseu é nosso semelhante, nosso irmão, para lembrarmos o verso de Baudelaire. Entrar em contato com sua vida é chegar a uma essência de que todos fazemos parte. E isto pelo poder da arte – que, sendo grande, como a do Tezza, é sempre implacável. Característica que – se às vezes nos deixa perplexos, escandalizados, horrorizados – sempre eleva o homem. E não tenho dúvida: O professorveio mesmo para ficar entre os mais importantes romances escritos no Brasil no século XXI.




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